A reinvenção de nossos quintais é um dos grandes desafios para Parintins, para o Amazonas, para o Brasil e para a saúde do mundo.
Da Assessoria
A celebração da última Lua Cheia do ano, domingo, dia 15, no Círculo Sagrado de Saúde, promovida pela Teia de Educação Socioambiental e movimentos parceiros, no Cóio das Utopias, bairro Tonzinho Saunier, com o tema “Lua Cheia amplia nosso olhar para os Cuidados com a Vida em sua Totalidade”, abriu espaços para diálogos e compromissos de cuidados com a Vida.
A exibição do vídeo Saga da Amazônia, ilustração à canção profética de Vital Farias, marcou a abertura dos diálogos referendando vozes silenciadas em defesa do Meio Ambiente, dos direitos universais, da saúde e do Bem Viver Universal. Chico Mendes, um dos mártires lembrados no vídeo, completaria 80 anos no domingo, mas foi executado em decorrência de sua missão no interior do estado do Acre, em defesa da Amazônia.
Além de Chico Mendes várias
memórias silenciadas foram lembradas como provocação para que outras vozes digam NÃO ao agronegócio, à pulverização aérea, às monoculturas, às queimadas, à destruição da natureza, à corrida desenfreada por lucro e bens materiais...
“A reinvenção de nossos quintais é um dos grandes desafios para Parintins, para o Amazonas, para o Brasil e para a saúde do mundo. São ecos de Esperançamentos como garantia de nossa Vida e da Vida da Mãe Terra. Desafio Militante para 2025”, afirma a coordenação do Círculo.
Teçumes no Quintal
Os diálogos e compromissos sobre os cuidados com a Vida a partir das relações com os quintais teve como primeira intervenção a participação da professora universitária Dilce Pio Nascimento com a dinâmica “Poesia e Teatro – Palavras Grávidas”, envolvendo o coletivo. “Educação popular, a consciência ambiental é a base para transformação do planeta. E o nosso planeta começa no quintal da nossa casa. Levamos os projetos de extensão "A declamação de poesia" e o "LancePin" para que os alunos tivessem essa vivência na natureza e nos trabalhos desenvolvido pelo grupo TEIA em Parintins. Levamos a música "A Paz" do grupo Roupa Nova e de mãos dadas cantamos o amor, unidade pois "só o amor muda o que já se fez / e a força da Paz junta todos outra vez / venha, já é hora de acender a chama da vida / e fazer a terra inteira feliz" (Roupa Nova). Nessa sintonia de palavras grávidas o Círculo Sagrado vibrou de mãos dadas e uma energia de alegria, de Paz e de amor marcou o instante de unidade entre todas as presenças”, ressalta a docente.
O abacaxi, que estava na mesa de partilha, transformou-se em poesia. "Com teu coçar / de verdes plumas / feroz de aprumas para lutar(...) /abacaxi / topázio agreste / Cristal farol / cada rodela / da tua polpa / revela o sol" (poema do escritor amazonense Luís Bacellar). “Os olhares, a ternura, as palavras de cada participante são sinais de novos tempos, esperança, porque enquanto houver um ser humano na terra que respeite a natureza, seremos salvos, e as futuras gerações poderão ter um mundo melhor, assinala Dilce Pio.
Para ela, “o Círculo Sagrado de Saúde nos envolve nesse amor coletivo de transformação, mostrando que somos uma totalidade cósmica. Uma outra atividade foi o exercício do amor-próprio e da ternura pelo outro, embalados pela canção de ninar ‘meu limão meu limoeiro, meu pé de jacarandá’ ... Todos e todas puderam se olhar mutuamente nos olhos, com ternura como se estivesse afagando o seu próprio coração. Foi um momento mútuo de carinho, de afeto entre os olhares como uma mãe que acalenta seu filho”, concluiu.
Afeto em Arte
A mestra em Sociedade e Cultura na Amazonia, Míriam Araújo, marcou o Círculo com a dinâmica “Afeto em Arte”. “Foi um momento muito especial que vivemos no Círculo Sagrado. A dinâmica representou um momento de busca, de fortalecimento da nossa cura interior, enquanto coletivo. A vivência no Círculo Sagrado é isso: uma oportunidade de falar sobre nossas fragilidades, uma forma de representar o nosso individual como um ser em construção, parte da natureza, que dialoga com o ambiente, hoje tão massacrado”, afirma.
Segundo ela, “a dinâmica visou representar esse momento de cura, de fortalecimento interior das nossas necessidades. De nos manifestar, tanto através das palavras, da dança, da música e das diversas expressões que a arte nos possibilita representar aquilo que é belo, aquilo que é luz e nos guia nesta sociedade diante das transformações no mundo que têm fragilizado nossa saúde, com tantas destruições”.
Míriam ressalta que “temos sido desvinculados da natureza há muito tempo. Somos parte dela. E quando nos relacionamos com Ela, percebemos que o coletivo presente na Teia não é apenas nós, seres humanos, mas também o sagrado em relação à natureza, a tudo o que existe e a que representação nós estamos com o Cosmo e o que o Cosmo é com a gente”.
A dinâmica de Míriam trouxe a poesia de Natal de Cora Coralina. Segundo Míriam, “Vivenciamos aqui palavras de afeto. Em cada expressão uma força ao colega, a um parceiro ou parceira no grupo. Lançaram, naquele momento, palavras de afeto e posteriormente seguiram na dança, com o maracá, utilizando tanto o movimento corporal, quanto a expressão musical que fala da transformação da borboleta. É o nosso nascimento, o nosso Natal, momento de transformação: fechamos círculos para nos comprometer com novos ciclos. É o momento de cuidar da natureza, de nossa essência e não nos permitir adoecer nesse sistema brutal. Foi um momento de demonstrar que o afeto e a arte nos transformam, curam e podem ser revolucionários em nossas vidas”, afirma.
Vigiar o Quê sob o olhar das crianças
Com apenas 9 anos de idade, Ana Carolina Ferreira Aranha, sementinha Ativista da Teia, protagonizou a dinâmica “Vigiar o Quê sob o olhar das crianças...”. A partir de uma semente encontrada na minifloresta do Cóio das Utopias, Carol envolveu adultos, jovens e adolescentes na prática de “semear, cultivar a terra, e reciclar resíduos na construção de um novo mundo possível. A gente pode plantar tipos diferente de sementes em nossos quintais, resultando em plantas exóticas, lindas da Mãe Natureza e essa é uma prática muito boa que precisamos adotar”, disse ela.
Para a mãe de Carol, a jornalista Clely Ferreira, a prática de Ana Carolina é fruto da observação e das vivências nos Círculos Sagrados. Carol reflete “o comum na sociedade ou até mesmo na escola: só falam sobre a questão ambiental no dia do Meio Ambiente ou quando há tempo. Não aprofundam certas questões. Quando vamos para o Círculo sempre trazemos novos aprendizados, principalmente sobre a questão da natureza, de ervas medicinais, de plantas.... Quando a Carol participa, ela tem sempre outras percepções. Ela ouve mais, aprende mais. Não só ouve, mas visualiza as plantas, ela ouve sobre os benefícios delas”.
Clely se manifesta muito gratificada com o envolvimento da filha e de suas reflexões sobre os caminhos de respeito à Mãe Terra. “Ela capta essas informações, e a gente percebe na fala dela a assimilação. No Círculo não somente falamos sobre a natureza, mas vivemos esses cuidados. E isso é visível. A questão não é só cuidar da Natureza, cuidar de si, mas cuidar do outro também, de forma solidária que envolve o aprendizado do mundo”, destaca.
Carol desperta também a atenção do pai, Ariano Aranha, designer e produtor de mídias, que analisa as formas como os Círculos se reestruturam e se voltam para a participação popular. “É muito boa essa dinâmica de todos e todas contribuírem com seus saberes, com seus aprendizados. É bom ver os jovens, crianças intervindo no processo. A Carol é um ensinamento. É na prática, não só na teoria, como em sala de aula. É vivenciando a questão do que abala, do que prejudica o meio ambiente.
Adriano considera “muito bom ver uma participação assim bem ativa e espontânea. Há pessoas em quem Carol se espelha, além da gente aqui. É maravilhoso ver que está fortalecendo e motivando outras pessoas a participarem”.
Na sequência, coube a benzedeira Lia Nazaré realizar a prática do abraço coletivo entre todas as presenças do Círculo seguido de uma roda de “Teçumes em Comunicação Popular”, com as contribuições do Jornalista e Educador Popular Floriano Lins e do Designe e Produtor de Mídias Adriano Aranha.
Concluiu-se o último Círculo do ano com Compromissos Populares de Cuidados para 2025, através da Educadora Fátima Guedes e da Assistente Social Alciana Nunes.
Em sua avaliação, Alciana destaca que “o Círculo representa união, cura, transformação. Conexão com a natureza. Autoconhecimento. É inspiração, criatividade. Ele traz bem-estar emocional, redução do estresse, redução da ansiedade, da depressão. A gente se sente bem quando o coletivo se reúne. É fortalecimento dos relacionamentos. Aumenta a autoestima. É nosso desenvolvimento espiritual também, clareza mental”.
Na homenagem aos aniversariantes de dezembro, a Técnica em Administração Émili Souza e a Bióloga Eliza Wandelli foram reverenciadas: “Émili, jovem entusiasta e comprometida com os propósitos dos Círculos; Elisa, embora ausente, fora lembrada, haja vista ser nossa ponte nos primeiros diálogos da Teia com a Agroecologia, com a Agrofloresta apontando-nos jeitos cuidadosos para com a Mãe Terra e respectivos elementais”, ressalta a educadora Fátima Guedes.
A realização dos Círculos Sagrados de Saúde flui da parceria do Coletivo formado pela TEIA, Articulação Parintins Cidadã, Coletivo de Mulheres de Fibra da Amazônia, Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde, Marcha Mundial das Mulheres e Fórum de Educação do Campo, das Florestas e das Águas Paulo Freire.
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