A noite de 17 de julho, ao longo dos anos, foi marcada pela encenação teatral do auto do boi e a tradicional matança do Boi Garantido. Este ano não foi diferente, sempre no curral tradicional, no reduto encarnado. O ritual, herança do fundador do bumbá, mestre Lindolfo Monteverde, marca também o encerramento das atividades do vermelho e branco na Baixa do São José.
Na encenação da matança, os brincantes saíram pelas ruas dos bairros São José Operário e São Benedito, comemorando o fim da temporada bovina. Pelas ruas Lindolfo Monteverde, São Benedito, Nações Unidas e Rui Araújo, os torcedores do bumbá acompanharam os batuqueiros e vaqueiros cantando toadas antigas e brincando com o boi de pano, que saía em disparada tentando fugir do laço dos vaqueiros.
Em vários momentos, a multidão parou para ver a evolução do boi que rodopiava e reproduzia os movimentos de um boi real. Como manda a tradição, o boi de veludo branco visitou a casa das famílias mais tradicionais, levando o carinho para os torcedores apaixonados. E assim, seguiu o cortejo até chegarem ao ato final. O auto do boi foi encenado, o Garantido morreu e pela tradição só deve reaparecer no próximo ano.
“Todos os anos a emoção se repete, seja nas saídas dos dias 12, dia 24 ou na Alvorada. Ai a gente fica ainda mais emocionada neste dia porque é a despedida do nosso Garantido”, declarou Raimunda Simas, de 83 anos, moradora da rua Lindolfo Monteverde, uma das torcedoras mais antigas.
Outra torcedora que também recebeu a visita e o carinho do boi de pano foi dona Maria Dilce Freitas, de 82 anos. ¨Essa é a retribuição pelo seu amor, sua devoção e tradição ao Garantido” disse para dona Dilce, o tripa, Arnaldo Barbosa (Buba), que no momento evoluía com o boi.
Auto do boi
A festa e a cerimônia do auto do boi é uma realização da Associação Cultural Lindolfo Monteverde, com o apoio da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido e de colaboradores.
De acordo com a filha do criador do Garantido, o versador Lindolfo Monteverde, dona Maria do Carmo Monteverde, aos seus 85 anos, o boi tem os chifres enfeitados por palhas, uma vez que no começo da encenação do auto do boi, na época de seu pai, o Garantido tinha os chifres queimados e as palhas já estavam presas para facilitar a queimada.
A matriarca dos Monteverde conta ainda que se tronou tradição o boi ressurgir sempre no dia 2 de janeiro, dia do aniversário de Lindolfo e data instituida como "Dia da Tradição". Nesta data o Garantido chega no curral tradicional da Baixa de São José com rosas vermelhas presas aos chifres para simbolizar a vida, que ressurge com o bumbá.
"Esse evento representa uma das maiores tradições de Parintins, porque faz mais de cem anos que aconteceu esse primeiro ato, e o povo daquela época, chagava a chorar com a despedida pela morte do Garantido, que meu pai fazia. Essa tradição nasceu aqui e permaneceu até hoje e estamos felizes porque essa cultura foi a nossa grande riqueza", afirmou dona Maria Monteverde. Ao lado do levantador de todas David Assayag, dona Maria cantou e tirou versos.
Para o presidente do Boi Garantido, Adson Silveira, a tradição se mantém, com o apoio e colaboração de todos. "É a parceria do Boi Garantido com a família Monteverde, é um evento tradicional e estamos sempre aqui para contribuir. Foi uma bonita festa com a participação dos torcedores", assegurou Silveira.
Tradição e churrascada
Segundo relatos dos Monteverde, o auto do boi tem registros do século passado e desde 1920 foi iniciado por Lindolfo Monteverde. Nesta terça-feira, 18, o Garantido ainda reúne brincantes para um churrasco finalizando os eventos. O local é a residência de dona Maria do Carmo, na Baixa de São Jose. Lá é servido o churrasco e também uma caldeirada, com a “carne do Garantido”.
Fotos: Daniel Brandão
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